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ESPAÇOS AUTÓNOMOS: Debates e Conversas

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Os anos que assistiram ao esgotamento das formas clássicas da esquerda e do movimento operário viram também a emergência de novas forma de luta e de resistência que procuravam alterar os paradigmas do que significava fazer e viver a política ante o aparente triunfo do capitalismo. O território, percorrido e construído a partir das infraestruturas do poder, tornava-se ele próprio um terreno de luta e a par com a ideia clássica de uma esquerda reivindicativa e de governo surgiam múltiplas experimentações, que procuravam pensar a alteridade, a subjectividade e o antagonismo através do conceito de espaço: espaço para conquistar, espaço para construir, espaço para habitar, espaço para viver, espaço para ser. A percepção de que o capital tinha penetrado em todos os campos e que a própria “esquerda clássica” era agora apenas um dos polos de participação na gestão do capita fazia com que muitas lutas, de modo voluntário ou espontâneo, se transferissem para a imediatez das esferas da vida quotidiana.

Esta viragem territorial assume múltiplas formas: das ocupações do PREC às casas okupadas das cidades europeias passando pelo centros sociais Italianos e Alemães; das lutas anti-gentrificação das metrópoles Norte-americanas às “zonas autónomas temporárias” da ZAD em França e dos acampamentos NO TAV em Itália; do Occupy e do movimento das praças às clinicas e cantinas autónomas dos territórios devastados pela austeridade.

Se para alguns estas são apenas lutas locais, cuja atomização necessita de hipóteses organizativas mais vastas, para outros é a partir deste habitar colectivo e comum que se poderão desenhar as alternativas sociais e políticas que permitirão contestar o domínio do capital. Propomos uma discussão alargada sobre estas e outras questões ao longo de dois fins de semana, com convidados de toda a parte, focando aspectos históricos, teóricos e práticos.

8 Abril (sexta) – 21h30 -RDA69 – Espaços e Crise

A crise tornou-se o modo de gestão prevalecente na relação entre economia e política, acompanhando a precariedade enquanto estrutura da nossa relação com o mundo. Não sendo uma novidade, figurou-se de tal forma nos últimos anos que gerou um choque, um estranhamento, e por sua vez uma necessidade de contextualização, de construção de novas representações que permitissem desenhar respostas a uma estratégia antiga, que se apresentava com uma contundência particular. Estas respostas, em grande medida urbanas, tomaram o espaço como dimensão estratégica. As ruas e as praças tornaram-se locais de encontro, centros sociais e velhas okupas fizeram-se centros de apoio logístico.
Não é a história de grandes vitórias, mas das solidariedades quotidianas que se vão construindo entre pequenas derrotas. Nesse sentido, importa-nos perceber que papel teve esta estratégia, a de criar espaços de encontro, no desenhar do mapa político das cidades que habitamos hoje.

Conversa com membros dos coletivos da Fontinha (Porto), Severa (Lisboa), RDA 69 (Lisboa), Laranjinha (Sintra), Praça do Rossio (Lisboa) e Gaia.  

9 Abril (Sábado) – 18h – RDA69 – PREC

Não tendo sido o PREC um momento inédito de reorganização, não deixa de ter sido um momento em que, no contexto português, o horizonte do possível se dilatou. Sem querer cair em saudosismos que de alguma forma manietem o futuro, o objetivo deste painel relaciona-se com a herança deixada por este período nas formas de apropriação, organização e gestão do espaço, num sentido nem sempre literal, que terão se terão transmutado e/ou perdurado na transformação dos anos 70 em anos 80.

Conversa com Miguel Pérez (historiador) e outros convidados

9 Abril (Sábado) 21h30 – RDA69 – Ocupações com “K”

Em meados da década de noventa pequenos grupos de jovens decidem organizar-se e criar centros sociais a partir de casas votadas ao abandono pela especulação imobiliária. Longe de rejeitar experiência anteriores, verificadas nos anos do PREC, a sua lógica não deixa de ser distinta, inspirando-se mais no que à altura se passava em Amesterdão, Londres ou Barcelona. O objetivo deste painel é recordar estas experiências, compreender o que as motivou, analisar as suas repercussões.

Conversa com membros da Casa Enkantada (Lisboa) e Cosa (Setúbal)

10 Abril (Domingo) 15h – RDA49 – Teoria e Prática do Quotidiano

Enquanto locais que escapam à dicotomia entre público e privado, os espaços autónomos encontram frequentemente desafios relativos à sua manutenção e reprodução: se por um lado há uma renda para pagar ou um quadro legal desfavorável ao qual resistir por outro as próprias necessidades e actividades dos espaços assentam em participações voluntárias, sujeitas aos ritmos e ocupações da vida quotidiana. Que papel podem estas locais jogar na reprodução da vida quotidiana daqueles que os frequentam? Que tácticas e estratégias podem ser pensadas e utilizadas no sentido de dinamizar estes locais?

Conversa com Luhuna Carvalho e membros da Rosa Imunda (Porto) e BOESG (Lisboa)

10 Abril (Domingo) 17h – RDA49 -Território e Metrópole

A extensão desmedida das metrópoles contemporâneas cria um território urbano desigual e descontínuo onde uma contínua tensão é desenhada entre os dispositivos de controle e as formas de resistência e de vida que emergem em dissonância com eles. Os fenómenos que temos observados circunscritos a determinados movimentos militantes são na verdade parte de uma experiência da cidade que em muito transcende os circuitos activistas e se espalha por múltiplas comunidades e territórios.

Conversa com Nuno Rodrigues (geógrafo), Cristina Roldão (Kutuca, CIES-IUL) e António Guterres (ISCTE)

15 de Abril (Sexta) 21h – RDA69 – O Comité Invisível e os “Nossos Amigos”

O Comité Invisível vem a Lisboa apresentar e discutir o seu último livro Aos Nossos Amigos. Este colectivo francês tornou-se conhecido em 2009 durante o célebre caso dos 9 de Tarnac, quando o seu anterior título – A Insurreição Que Vem – foi apresentado enquanto prova do seu envolvimento em diversos actos de sabotagem. O livro acabou por ter uma exposição inédita, chegando a vender 100,000 cópias nos Estados Unidos após ter sido denunciado pelo ultra-conservador Glenn Beck enquanto o manual informal das revoltas que começavam a varrer o globo. A Insurreição Que Vem e Aos Nossos Amigos apresentam várias reflexões sobre a radicalidades dos tempos em que vivemos, entrando em polémica com as leituras mais ortodoxas e clássicas do anarquismo, do comunismo e das suas diversas tradições, ao mesmo tempo que traçam um dos diagnósticos mais lúcidos sobre o desenvolvimento das crises do poder e do capital.

Livro disponível em edicoesantipaticas.tumblr.com/#130559273935)

16 Abril (Sábado) 17h – Contextos locais e internacionais + debate final

Vários grupos e colectivos de França e do Estado Espanhol irão apresentar-nos os projectos que têm em mãos em Barcelona, Rennes e outros locais. Que estruturas foram criadas nestes territórios? Enquanto resposta a que lutas e limites? Que dinâmicas sociais, políticas e territoriais implicam e englobam? Que perspectivas emergem nas suas práticas? Estas apresentações darão o mote a um debate mais global sobre o papel dos espaços e dos territórios nas lutas contemporâneas.