As dinâmicas eleitorais protagonizadas por nomes como Bernie Sanders e Jeremy Corbyn e por partidos como o Podemos, bem como o sucesso da Geringonça em Portugal, trouxeram, mesmo nalguns meios de activismo mais à esquerda, uma renovada confiança nas possibilidades de “mudar o mundo tomando o poder” ou, dito de outro modo, levaram a um reforço da crença de que o Estado, na mão certa (a esquerda) é um instrumento capaz de ser posto ao serviço do chamado bem comum. Ao mesmo tempo, para outros, a queda, um após outro, dos protagonistas da chamada “maré cor-de-rosa” na América Latina, assim como a incapacidade do governo do Syriza, na Gécia, de fazer valer a vontade de ruptura com a austeridade que fazia parte do seu programa eleitoral, são a demonstração de que o Estado está de tal modo implicado no processo de produção e reprodução do capital que a ideia de que possa ser posto ao serviço de outra coisa que não a reprodução – em condições mais ou menos favoráveis para o trabalho, desses mesmos processos – não passa de um engano onde activistas e movimentos perdem o seu precioso tempo e energias.
Como seria de esperar, o movimento real da política faz-se acompanhar pelo não menos real movimento da teoria, onde assistimos, por um lado, a uma multiplicação de produções teóricas – desde autores consagrados até colectivos anónimos – que fazem seu o imperativo de pensar a política à distância do Estado e, por outro lado, somos testemunhas de propostas de relançamento do leninismo, com o partido como horizonte inultrapassável da acção colectiva, bem como de um conjunto de propostas neokeynesianas que, pesem embora as muitas diferenças entre si, partilham a mesma visão instrumental do Estado.
Sobre estes e outros assuntos propomos uma conversa ao fim da tarde com o teórico Benjamin Noys. Benjamin Noys é um teórico inglês que que já escreveu sobre Debord, os situacionistas e os anarquistas. É especialista na obra de Georges Bataille e escreve regularmente sobre cinema, literatura e teoria contemporânea. É autor de The persistence of the negative, onde aborda boa parte da filosofia política continental e de Malign velocities, uma crítica às correntes teóricas aceleracionistas. Noys é também o editor de uma importante colecção de ensaios sobre a comunização, Communisation and its Discontents (disponível aqui:http://libcom.org/library/communization-its-discontents-contestation-critique-contemporary-struggles) e vem ao RDA para falar sobre a questão das possibilidades, nos tempos que correm, de pensar e fazer política à distância do Estado. É no Sábado, dia 3 de Fevereiro, no Regueirão dos Anjos, às 18h. Venham às pás!