Como comunicámos recentemente, a cantina solidária termina no próximo dia 6 de Setembro. Contudo, muitas das razões que nos levaram a começar este projecto mantêm-se. Podemos já não nos encontrar sujeitos a um estado de emergência e a uma situação de confinamento como se verificou durante Março e Abril, mas a crise social e política que vivemos não dá sinais de terminar – bem pelo contrário.
A cantina foi uma forma de lidarmos com o estado de catástrofe que se intensifica. Essa resposta deu-se não só através da distribuição de refeições a quem se encontra em situações de privação mas, também, como um momento de ensaio de formas de organização e relação que procuram ir para lá da estatização e monetarização do cuidado. Um conjunto de preocupações que se estenderam à crítica, justa mas talvez recorrente, das formas de actuação das instituições que tradicionalmente se ocupam destas áreas.
Durante os 6 meses da cantina existiu uma tentativa para que esta não se reduzisse a um mero ponto de entrega de refeições ou de mera disponibilização de alguns serviços. Ainda que nem sempre o conseguindo, durante este período pretendeu-se criar relações que contestassem o lugar entre quem cozinhava e distribuía uma refeição e a posição de quem a vinha receber. Como resultado, foram criadas relações de amizade e confiança com várias pessoas que chegaram ao RDA pela primeira vez.
Desta forma, procurando responder a algumas das necessidades identificadas e às dinâmicas relacionais que se criaram ao longo do tempo, o RDA passará a disponibilizar o seu espaço de esplanada para diversas funções a partir de dia 7, entre as 11h30 e as 15h30. Manter-se-á a disponibilização de um ponto de água, a possibilidade de lavar a roupa ou carregar telemóveis. No seguimento da experiência recente com a Eira, pretende-se que a esplanada possa ser um local onde, quem quiser, se possa sentar um pouco durante o dia, aproveitar para conversar e discutir com amigos, jogar ou ler, descansar um pouco, enfim, o que quiser. Além disso, será disponibilizada uma estrutura de cozinha com utensílios e alguns alimentos para que quem venha possa preparar algumas refeições quentes para si.
Esta abertura do espaço exterior em frente ao RDA é um primeiro passo para definir aquilo que anunciámos no comunicado anterior relativamente ao futuro da cantina e do próprio espaço. Assumimos o carácter experimental desta iniciativa, mas acreditamos que ao longo destes meses fomos criando dinâmicas e processos colectivos que nos fazem acreditar que esta abertura da esplanada possa contribuir não só para satisfazer um conjunto de necessidades, como contribuir para a construção de dinâmicas e potencialidades que cada vez mais nos fazem sentido.