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Sobre o primeiro mês da esplanada comunitária

No dia 7 de Setembro começámos uma experiência na parte exterior do RDA69. Como referimos no último texto, este espaço procura dar continuidade a uma série de serviços e formas de apoio mútuo que iniciamos com a cantina solidária.

Se nos meses anteriores todos os dias se estendia uma fila de 200 pessoas à espera de uma refeição já confecionada, neste momento o espaço exterior do RDA69 é ocupado e apropriado por cerca de 40 pessoas que, todos os dia e de forma colectiva – uns mais que outros – cozinham o seu almoço.

Mantemos o acesso a dois turnos de máquina de lavar roupa por dia, um ponto de electricidade para carregar telemóveis ou outros dispositivos, água potável, e passamos também a assegurar café quente, um lugar para sentar, acesso à casa de banho e chuveiro. Mas o que é realmente diferente é que, nesta nova experiência, todos os dias é montada uma cozinha de campanha equipada com fogão, são disponibilizados tachos e louça, alguns condimentos, enlatados, secos, massas, arroz e alguns legumes… Acrescentando estes alimentos, há sempre quem traga alguns vegetais respigados, um frango, ou até farinha por quem se voluntaria a fazer Nan ou bruschettas para todos.

Apesar da abertura e manutenção do espaço continuar a ser garantida por um grupo de voluntários, no último mês é notório o crescente envolvimento de todas as partes neste processo. Se a abertura do espaço está marcada para às 11 horas, 15 minutos antes já pequenos grupos se encontram presentes, montando cadeiras e mesas, esticando os toldos, limpando as mesas, enchendo os alguidares onde mais tarde a louça será lavada. O mesmo se dá na altura do fecho, em que apesar de haver sempre alguém a deixar a louça por lavar, muitos são os que se juntam na limpeza e arrumação geral do espaço. Neste processo de procura de novas práticas e formas de fazer o quotidiano, existe uma gestão permanente de possíveis tensões e novas relações que se criam. Quem usa o fogão primeiro? Quem deixou o tacho por lavar? Com quem se divide a lata de feijão e restantes alimentos que serão cozinhados?

mesa com legumes a ser preparados por várias mãos

Assim, após o término da cantina solidária e o começo deste novo formato, procuramos ir um pouco mais além da distribuição de um certo número de refeições diárias. Temos consciência da relevância da distribuição de cerca de 200 refeições diárias, mas, ao mesmo tempo, é impossível negar a potência que se encontra na criação de novas dinâmicas, formas de relacionamento e, acima de tudo, práticas mais comunizantes. O envolvimento entre todos os que se encontram no espaço é agora maior e uma aprendizagem de como se relacionar colectivamente acontece de parte a parte a cada momento. Para lá do chegar ao espaço, decidir menus a partir do que existe, cozinhar, almoçar e partilhar mesa, tem ocorrido um re-habituar das práticas de cozinhar e decidir em conjunto. Nos casos em que existem pessoas que não sabem cozinhar, há sempre quem se chega à frente para dar uma ajuda. Noutros casos, existem pessoas com mais experiência que autonomamente cozinham para si e para outros. Quando se nota que um determinado grupo escolhe ingredientes semelhantes aos que outro grupo já está a preparar, a partir daí tenta-se que cozinhem em conjunto e partilhem a refeição.

Durante os meses da cantina solidária nasceram várias relações e foram experimentadas novas formas de agir e de estar. Se por falta de recursos e por esgotamento humano decidimos terminar com a cantina solidária, encontramos agora neste novo formato, mais experimental e em constante definição, não só uma continuidade dos processos já iniciados, mas também uma forma que rompe com um saber e fazer dividido — por exemplo entre quem cozinha e quem não cozinha — para uma prática mais autónoma e colaborativa.

Neste momento o RDA disponibiliza alguns bens-essenciais e uma espécie de cabaz diário para esta actividade, no entanto, e como os recursos não são infinitos, estamos a aceitar donativos em dinheiro (IBAN: PT50 0035 0100 0003 1497 5304 1) ou doações em géneros — arroz, massa, enlatados, detergente para a roupa, azeite, toalhas, café — que poderão ser deixadas no espaço, todos os dias das 11h00 às 15h30.