No início do Verão foi lançado um apelo para uma reunião aberta sobre a construção de um espaço comum na Rua do Regueirão dos Anjos, em frente à associação Recreativa dos Anjos (RDA). Esta reunião serviu como ponto de partida para criar as bases de um processo colectivo para pensar e construir não apenas aquele espaço em particular, mas também possibilidades de novos tipos de relação na cidade.
As reuniões continuaram ao longo de cerca de 3 meses, e funcionaram de forma horizontal e com decisões por consenso. Logo na primeira reunião percebeu-se que havia pontos de interesse que ligavam várias ideias individuais, e que daí se poderiam formar grupos que discutissem em pormenor as suas ideias e as tornassem concretas. Os grupos reuniam-se para aprofundar as suas ideias, torná-las consensuais e depois juntavam-se para as apresentar ao grupo alargado. Foi um processo que culminou neste projecto que será agora apresentado à Junta de freguesia de Arroios.
Do processo atravessado até à data, percebemos que a nossa vontade em reorganizar a rua traduz-se no nosso interesse em tornar este troço do Regueirão dos Anjos um espaço comum. Que não sirva apenas os interesses da associação RDA; que não contribua para uma vontade de higienização da cidade sobre pressupostos comerciais ou turísticos; que seja de todos os que possam usar esta rua, viver nela, passar por ela; que possa deixar de ser apenas um local de passagem para carros e de acesso à garagem mas sim um local de convívio, de criação de relações e de afinidades; que o seu uso se possa estender para além do funcionamento da RDA e das actividades aí desenvolvidas.
Esta intervenção não se propõe a limitar as possibilidades de utilização da rua e a sua organização. Todos os materiais e infra-estruturas serão passíveis de ser retirados se assim o desejarmos; reorganizados consoante as vontades e necessidades; que permitam uma contínua relação entre o seu uso e a sua transformação.
E este processo não termina aqui. Está precisamente a meio caminho. Quando iniciarmos a ocupação desta rua, novas ideias e também novas dúvidas vão surgir, as quais serão ultrapassadas na discussão e experimentação de todos nós. Porque só através da vivência comum e da discussão profunda se pode organizar uma cidade. Por todos e para todos. Contamos por isso que os que participaram até aqui neste processo, e muitos que se queiram juntar, continuem aqui a pensar as ruas, os lugares, a cidade, e a tomá-la como sua.
Assembleia do Espaço Comum
Outubro de 2015